Cheguei a Lisboa ao início da tarde, e apanhei o metro de Sta. Apolónia até ao rosa Largo do Rato. Dez minutos e uma rua ligeiramente íngreme depois, cheguei à Assembleia da República. Entrei e sentei-me nas galerias, mesmo por trás da bancada do PP e PSD. Consegui, confesso, ver o facebook aberto no terminal de um(a) qualquer deputad@ que já tinha saído e não chegou a voltar.
Não sabendo o tempo que iam demorar as declarações políticas agendadas para antes da votação da Lei de Identidade de Género (LIG), decidi não arriscar, e acabei por esperar mais de três horas até que o momento chegasse. Pelo meio, tive a companhia de várias turmas de alunos do liceu. Quando chegou a hora, o meu coração começou a bater um pouco mais rápido
Era a recta final de cinco anos de trabalho para a LIG, que tinham começado em 2006 quando fundei o GRIT - em 2007 começou a colaborar com a Associação ILGA Portugal, e em 2011 voltou a adquirir a sua independência. É de alguma forma curioso olhar para trás, e ver o que aprendi, vivi, pensei, viajei e fiz, as pessoas e coisas que conheci, as desilusões que me desanimaram, e as sortes inesperadas que me inspiraram. Pensava no início que este dia teria chegado mais depressa; essa era talvez uma altura mais simples em que muito menos me era dado a conhecer.
Gostei claramente das declarações de José Soeiro do BE, João Oliveira do PCP, José Ferreira do PEV e Ana Catarina Mendes do PS, em apoio à LIG e aos direitos humanos mais fundamentais das pessoas transexuais. Senti-me profundamente desiludida com as de Francisca Almeida e Isabel Galriça Neto, que reconheço como mulheres como eu, mas cujos partidos não mostraram vontade de retribuir o reconhecimento - ou, de facto, a minha cidadania, com todo um conjunto de direitos que muito provavelmente nunca tomaram por menos de garantidos. Senti um aperto indescritível - um aperto óptimo e maravilhoso! - quando foi anunciado o resultado da votação.
Tirei uma foto, meti-me no comboio novamente, e voltei para casa com uma sensação de missão cumprida.