(na continuaçao desta)
Um jantar organizado por amigas, para as que sao amigas das pikenas.
Uma pikena comigo conversa mete. Tem uma profissao interessante, já viajou muito, o diálogo até se torna interessante - embora sem segundas intençoes da minha parte, dado estar comprometida, e ser pikena de uma pikena só. Ela vai-se soltando, mostra os dentes enquanto puxa os cabelos para trás, does her thing.
A dada altura, a conversa passa para a vida nocturna e discotecas GLB no Porto. Há uma de que ela gosta, e outra que detesta. Porque?, pergunto. Por causa daquelas travecas nojentas que se andam a vender. Nao sao homens nem mulheres, gozam é com a nossa cara, fazem-nos ter péssima imagem. Eu ergo subtilmente a sobrancelha esquerda, o meu sinal corporal para bullsh*t. Já viste alguma mulher a comportar-se assim??, acrescenta, feroz. Em vez de os operarem, os médicos deviam eram dar-lhes uma injecçao!
Nao sei se é crossdresser-fóbica, dragqueen-fóbica, ou transfóbica; nao sei se eu estaria incluída na sua lista de eutanásia involuntária. Abaixo de homossexual, há uma só camada, indistinta. Mas nao me faz diferença ser visada ou nao; é uma linguagem odiosa que nao posso tolerar, seja quem for o objecto. O choque, contudo, tolhe-me as palavras, e nao consigo sequer esboçar resposta.
No final, diz que gostou muito de me conhecer. Posso ficar com o teu número? Sim, claro. Dou-lhe o pessoal, com 8 dígitos. Ela anota-o no telemóvel, e despedimos-nos.