São palavras tristes as que vou escrever; lamento que o tenha de fazer. Mas o silêncio é cúmplice - e o activismo é a antítese disso.
No mês passado, a latitudes mais a sul do que o Porto, foi realizado um debate com um tema populis recente, sobre transsexualidade. Na mesa estava uma amiga que, nos últimos tempos tem marcado presença nos média: é uma jovem inteligente com um percurso de vida notável, e que sabe cativar pela empatia e envolvência do seu discurso.
As surpresas menos boas começaram com o flyer de divulgação. Falava da "despatologização" da transsexualidade - um conceito pouco certo dado o discurso consistentemente inconsistente de quem a tem defendido - como se fosse a reivindicação primária da população transsexual portuguesa. Quem o lesse, se mais não soubesse do tema, julgaria naturalmente que era este o objectivo consensual e principal da parte de quem por ele é afectado.
Da quase centena de homens e mulheres transsexuais em Portugal, que conheci pessoalmente ao longo dos meus anos de activismo, nenhum deles, sabendo do que se tratava a "despatologização", a considerou necessária, desejável, ou sequer inócua. É uma percentagem grande; se falássemos em pessoas homossexuais, seriam umas 45,000. Mesmo que não seja uma amostra absolutamente representativa - em última análise, só 100% o são - estatisticamente é muito improvável um quadro geral substancialmente diferente. Novamente em termos comparativos, seria em qualquer caso bem menor a adesão das pessoas transsexuais a esta "reivindicação", do que foi dos homossexuais à não-procura da igualdade no acesso ao casamento - por ser a "cópia" de um "modelo heterossexista e patriarcal". Uma estratégia não seguida, e ainda bem.
Não era lendo o flyer que saberíamos disto; nem que na organização do debate não estavam pessoas transsexuais. A minha amiga foi convidada - e só. Respeitando e reconhecendo o seu contributo na sensibilização pública, nunca tinha participado num debate orientado para políticas e reivindicações; seria difícil pelo menos parte da organização não saber disso, ou não ter alguns contactos com experiência neste tipo de iniciativas.
Às comparações generalista-falaciosas com outras população e questões, sem o detalhe que só o conhecimento sério do que falamos traz, seguiu-se um momento notável. Dois activistas homossexuais, um na mesa e outro na plateia, discutiam entre si como "nós" (eles) iriam conduzir esta "luta importante". Quando falam de/por nós como se nem sequer estívessemos na sala, sabemos de quanta consideração somos objecto.
No mês passado, a latitudes mais a sul do que o Porto, foi realizado um debate com um tema populis recente, sobre transsexualidade. Na mesa estava uma amiga que, nos últimos tempos tem marcado presença nos média: é uma jovem inteligente com um percurso de vida notável, e que sabe cativar pela empatia e envolvência do seu discurso.
As surpresas menos boas começaram com o flyer de divulgação. Falava da "despatologização" da transsexualidade - um conceito pouco certo dado o discurso consistentemente inconsistente de quem a tem defendido - como se fosse a reivindicação primária da população transsexual portuguesa. Quem o lesse, se mais não soubesse do tema, julgaria naturalmente que era este o objectivo consensual e principal da parte de quem por ele é afectado.
Da quase centena de homens e mulheres transsexuais em Portugal, que conheci pessoalmente ao longo dos meus anos de activismo, nenhum deles, sabendo do que se tratava a "despatologização", a considerou necessária, desejável, ou sequer inócua. É uma percentagem grande; se falássemos em pessoas homossexuais, seriam umas 45,000. Mesmo que não seja uma amostra absolutamente representativa - em última análise, só 100% o são - estatisticamente é muito improvável um quadro geral substancialmente diferente. Novamente em termos comparativos, seria em qualquer caso bem menor a adesão das pessoas transsexuais a esta "reivindicação", do que foi dos homossexuais à não-procura da igualdade no acesso ao casamento - por ser a "cópia" de um "modelo heterossexista e patriarcal". Uma estratégia não seguida, e ainda bem.
Não era lendo o flyer que saberíamos disto; nem que na organização do debate não estavam pessoas transsexuais. A minha amiga foi convidada - e só. Respeitando e reconhecendo o seu contributo na sensibilização pública, nunca tinha participado num debate orientado para políticas e reivindicações; seria difícil pelo menos parte da organização não saber disso, ou não ter alguns contactos com experiência neste tipo de iniciativas.
Às comparações generalista-falaciosas com outras população e questões, sem o detalhe que só o conhecimento sério do que falamos traz, seguiu-se um momento notável. Dois activistas homossexuais, um na mesa e outro na plateia, discutiam entre si como "nós" (eles) iriam conduzir esta "luta importante". Quando falam de/por nós como se nem sequer estívessemos na sala, sabemos de quanta consideração somos objecto.